
ICH E6(R3) Annex 2: Novas Diretrizes para Ensaios Clínicos com Elementos Descentralizados e Dados do Mundo Real
A versão preliminar do Annex 2 do guia ICH E6(R3), publicada em novembro de 2024, traz orientações práticas para a condução de ensaios clínicos que incorporam elementos descentralizados, pragmáticos e/ou utilizam dados do mundo real (RWD – Real World Data). Trata-se de uma ampliação das Boas Práticas Clínicas (GCP), adaptando-as à crescente complexidade dos ensaios modernos e à evolução tecnológica no setor.
O que muda com o Annex 2?
O documento não altera os princípios fundamentais das GCP, mas fornece diretrizes adicionais sobre como aplicá-los de maneira apropriada quando os ensaios incluem:
- Elementos descentralizados (atividades realizadas fora do centro do investigador, como visitas domiciliares ou uso de tecnologias digitais);
- Elementos pragmáticos (protocolos simplificados com dados integrados à prática clínica real);
- RWD (dados coletados fora dos ensaios clínicos, como prontuários eletrônicos, bases de reembolso, registros de saúde etc.).
Novos pontos de atenção
O Annex 2 destaca vários aspectos que merecem atenção especial:
1. Consentimento informado remoto e adaptado
O processo de consentimento pode ser feito por vídeo, texto, imagem ou plataformas interativas. É necessário garantir:
- Validação da identidade do participante;
- Clareza sobre como os dados serão utilizados e por quem;
- Opções presenciais para quem preferir.
2. Gestão do produto experimental em ambientes não tradicionais
O envio do medicamento ao domicílio ou sua administração por cuidadores ou profissionais locais exige:
- Documentação clara sobre recebimento, armazenamento e uso;
- Salvaguardas para proteger o sigilo e a integridade do estudo.
3. Uso ético e regulado de dados do mundo real
O uso de RWD deve ser justificado, com atenção à:
- Qualidade, consistência e completude dos dados;
- Validação das ferramentas usadas na coleta;
- Garantia de acesso dos reguladores às fontes originais;
- Proteção da privacidade e conformidade com os consentimentos.
4. Monitoramento e segurança em modelos híbridos
O acompanhamento do participante, mesmo quando remoto, deve gerar dados acionáveis que permitam decisões clínicas seguras. Isso inclui:
- Integração entre dados vindos de diferentes fontes (ex.: visitas presenciais e DHTs);
- Fluxo claro de comunicação entre patrocinador e investigador sobre eventos adversos.
5. Treinamento e supervisão adequados
Profissionais que executam atividades de pesquisa fora do centro precisam ser:
- Treinados adequadamente;
- Supervisionados com base na complexidade e risco da atividade.
Papel dos patrocinadores e comitês de ética
O patrocinador deve garantir:
- A adequação dos métodos e tecnologias utilizadas;
- A integração de stakeholders (incluindo pacientes) desde o desenho do protocolo;
- A comunicação eficaz com as autoridades regulatórias.
Já os Comitês de Ética devem avaliar com atenção:
- A privacidade dos dados;
- As novas formas de obtenção de consentimento;
- A segurança dos participantes nos diferentes contextos operacionais.
Conclusão
O Annex 2 da ICH E6(R3) representa um passo importante na modernização regulatória da pesquisa clínica. Ele reconhece a diversidade de modelos de ensaio que surgem com a transformação digital e a medicina centrada no paciente, sem abrir mão dos princípios éticos e científicos que sustentam a credibilidade da pesquisa clínica. Para profissionais da área, entender e aplicar essas novas diretrizes será essencial para garantir conformidade e qualidade nos estudos do futuro.