
Monitoramento de Segurança e Notificação de SUSARs em Ensaios Clínicos: Diretrizes da Anvisa
Os ensaios clínicos desempenham um papel essencial no desenvolvimento de novos medicamentos e produtos biológicos, sendo fundamentais para garantir a segurança e eficácia dos tratamentos antes de sua comercialização. Um dos aspectos mais críticos desses estudos é o monitoramento de segurança, que inclui a notificação das Suspeitas de Reações Adversas Graves e Inesperadas (SUSARs). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu diretrizes rigorosas para esse processo, detalhadas no Manual de Segurança para Ensaios Clínicos, cuja segunda edição foi publicada em 2025.
O que são as SUSARs?
SUSAR é a sigla para Suspected Unexpected Serious Adverse Reaction, que, em português, significa Suspeita de Reação Adversa Grave e Inesperada. Esse tipo de reação adversa deve atender a três critérios principais:
- Gravidade – A reação adversa coloca em risco a vida do participante, resulta em óbito, incapacidade permanente, hospitalização prolongada ou outras consequências médicas sérias.
- Inesperada – Não há registros prévios da reação no perfil de segurança do medicamento experimental, ou sua natureza e severidade diferem das informações conhecidas.
- Suspeita – Há uma possibilidade razoável de que a reação adversa tenha sido causada pelo medicamento experimental ou por um comparador ativo utilizado no estudo.
A detecção e a rápida notificação das SUSARs são essenciais para a proteção dos participantes e para a continuidade ética do ensaio clínico.
Monitoramento de Segurança nos Ensaios Clínicos
O monitoramento de segurança é um conjunto de procedimentos que visa identificar e minimizar riscos para os participantes de um estudo. Esse processo envolve tanto o patrocinador do ensaio clínico quanto o investigador responsável, cada um com atribuições específicas:
Responsabilidades do Patrocinador
- Coletar, analisar e relatar todos os eventos adversos (graves e não graves).
- Assegurar que os eventos adversos inesperados sejam comunicados à Anvisa no prazo adequado.
- Atualizar os documentos de segurança, como a Brochura do Investigador, sempre que necessário.
- Adotar medidas corretivas se houver risco aumentado, como suspensão temporária do estudo.
Responsabilidades do Investigador
- Monitorar a segurança dos participantes durante o ensaio e fornecer atendimento imediato em caso de reação adversa.
- Classificar o evento adverso conforme gravidade, intensidade e causalidade.
- Comunicar imediatamente ao patrocinador qualquer evento adverso grave (prazo de até 24 horas).
- Seguir os participantes que apresentaram reações adversas até a estabilização de sua condição clínica.
Além das reações adversas graves, outros fatores devem ser considerados no monitoramento de segurança, como achados de risco significativos, mudanças na relação benefício-risco do medicamento e recomendações de comitês independentes de monitoramento.
Como Notificar uma SUSAR à Anvisa?
A notificação de SUSARs à Anvisa é obrigatória e deve ser realizada exclusivamente pelo patrocinador do estudo, por meio do sistema eletrônico VigiMed. O relatório deve conter informações detalhadas, incluindo:
- Número do protocolo do ensaio clínico e identificação codificada do participante.
- Nome do medicamento experimental e dados sobre a administração.
- Descrição da reação adversa, incluindo gravidade, temporalidade e possível relação causal.
- Opinião do investigador e do patrocinador sobre a causalidade do evento.
- Tradução para o português caso o relatório original esteja em inglês.
Se houver divergência entre patrocinador e investigador sobre a relação causal da reação adversa, ambas as opiniões devem ser registradas na notificação.
Quebra de Cegamento
Em ensaios clínicos duplo-cego, pode ser necessário quebrar o cegamento para identificar se o medicamento experimental foi a causa de uma SUSAR. No entanto, a quebra de cegamento deve ser realizada com cautela:
- Apenas o paciente afetado deve ter o tratamento revelado.
- Profissionais responsáveis pela análise do estudo devem permanecer cegos para evitar viés nos resultados.
- O investigador pode quebrar o cegamento somente em casos de segurança, quando a identificação do medicamento for essencial para o tratamento do paciente.
Outros Relatórios de Segurança
Além da notificação de SUSARs individuais, o patrocinador deve apresentar Relatórios de Atualização de Segurança do Desenvolvimento do Medicamento Experimental (DSUR) anualmente à Anvisa. Esses relatórios contêm:
- Análise agregada de eventos adversos observados.
- Reavaliação da relação benefício-risco do medicamento.
- Dados coletados de todas as formas farmacêuticas e populações de estudo.
Se ocorrerem eventos críticos que alterem a segurança do estudo, o patrocinador deve comunicar imediatamente à Anvisa por meio de um aditamento ao processo regulatório.
Conclusão
A segurança dos participantes é um dos princípios fundamentais da pesquisa clínica, e o monitoramento rigoroso dos ensaios clínicos é essencial para a detecção precoce de riscos. O Manual de Segurança da Anvisa fornece diretrizes detalhadas para a notificação de SUSARs e a realização de relatórios de segurança, garantindo que os estudos sejam conduzidos de forma ética e transparente.
A correta implementação dessas diretrizes fortalece a confiabilidade dos ensaios clínicos no Brasil e contribui para o desenvolvimento de medicamentos mais seguros e eficazes para a população.