
Keytruda lidera as vendas globais em 2024 e reforça protagonismo em oncologia – mas até quando?
Pelo segundo ano consecutivo, o Keytruda (pembrolizumabe), inibidor de PD-1 desenvolvido pela Merck, liderou o ranking dos medicamentos mais vendidos do mundo. Em 2024, o blockbuster oncológico faturou impressionantes US$ 29,48 bilhões, um crescimento de 18% em relação ao ano anterior. O desempenho extraordinário é reflexo direto da estratégia agressiva da farmacêutica, que vem ampliando continuamente as indicações clínicas da molécula.
Um protagonista no tratamento do câncer
A ascensão meteórica do Keytruda não é surpresa. Com mais de 40 indicações aprovadas, o medicamento tornou-se peça central no tratamento de diversos tipos de câncer, incluindo melanoma, câncer de pulmão, de cabeça e pescoço, bexiga, entre outros. Recentemente, a FDA aprovou sua utilização como terapia de primeira linha para o mesotelioma pleural, uma forma agressiva de câncer associada à exposição ao amianto. A decisão abre à Merck um mercado estimado em mais de US$ 12 bilhões até 2034.
Contudo, à medida que o Keytruda se consolida como referência terapêutica, desafios importantes surgem no horizonte.
Patentes se aproximam do fim – e os biossimilares se aproximam
O principal risco para a Merck reside no vencimento das patentes do Keytruda, previsto para 2028. Com o fim da exclusividade, o mercado será aberto à entrada de biossimilares, versões concorrentes que devem gerar forte pressão nos preços e nas margens de lucro.
Antecipando esse cenário, a Merck investe no desenvolvimento de uma formulação subcutânea do medicamento – que poderia oferecer vantagens logísticas e de comodidade, ajudando a reter parte da sua base de pacientes frente à concorrência.
Pressões regulatórias em crescimento
Outro ponto de atenção está na avaliação crítica de órgãos reguladores quanto ao uso generalizado dos inibidores de checkpoint imunológico como o Keytruda. Em setembro de 2024, um painel consultivo do FDA votou para restringir o uso do Keytruda, Opdivo (nivolumabe) e Yervoy (ipilimumabe) – ambos da Bristol Myers Squibb – em cânceres gástrico e esofágico para pacientes com baixa expressão da proteína PD-L1. Embora o FDA ainda não tenha emitido uma diretriz final, a recomendação sinaliza uma maior seletividade na aprovação de indicações futuras.
Os demais destaques de 2024
Além do Keytruda, outros medicamentos se destacaram no ranking dos mais vendidos em 2024:
- 💉 Ozempic (semaglutida) – da Novo Nordisk, indicado para diabetes tipo 2, manteve sua curva ascendente com US$ 16,9 bilhões em vendas.
- 🧬 Eliquis (apixabana) – anticoagulante da Bristol Myers Squibb e Pfizer, somou US$ 13,3 bilhões, crescendo 9% no ano.
- 🧠 Dupixent (dupilumabe) – imunobiológico da Sanofi e Regeneron, arrecadou US$ 13 bilhões, crescimento de 23%.
- 🧴 Skyrizi (risanquizumabe) – da AbbVie, focado em psoríase e doenças inflamatórias, teve o maior crescimento proporcional, com +50,9%, atingindo US$ 11,7 bilhões.
A dança das patentes continua
A perda de patentes continua afetando gigantes do setor. O Stelara (ustecinumabe) da Johnson & Johnson, por exemplo, perdeu exclusividade em setembro de 2023. Já enfrentando biossimilares, teve queda de 4,6% nas vendas, para US$ 10,34 bilhões. Para compensar, a empresa aposta no Darzalex (daratumumabe), usado no tratamento do mieloma múltiplo, que faturou US$ 11,67 bilhões em 2024, um crescimento de quase 20%.
Conclusão
O domínio do Keytruda reforça a importância da oncologia como motor de crescimento da indústria farmacêutica, mas também expõe os desafios de sustentabilidade do modelo baseado em patentes e ampliação de indicações. A corrida pelos biossimilares e o olhar cada vez mais rigoroso das agências regulatórias devem redefinir o mercado nos próximos anos.
Em paralelo, terapias inovadoras para doenças metabólicas, inflamatórias e autoimunes mostram que o futuro da indústria será disputado em múltiplas frentes. O jogo está longe de acabar – e os próximos movimentos das gigantes farmacêuticas serão decisivos.
Fonte: Linkedin – Lais Rothe