Regulatório de Pesquisa Clínica

Como estruturar um Centro de Pesquisa Clínica: guia completo segundo a Anahp (2025)

Baseado na cartilha “Como Estruturar um Centro de Pesquisa Clínica”, lançada pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) em 2025.

A pesquisa clínica é o elo essencial entre a ciência e a prática médica. É por meio dela que novos medicamentos, terapias e tecnologias em saúde
chegam com segurança até os pacientes. Estruturar um Centro de Pesquisa Clínica (CPC) significa mais do que montar um espaço físico:
é criar um ambiente de inovação, ética e impacto social.

Em 2025, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) publicou a cartilha
“Como Estruturar um Centro de Pesquisa Clínica”, um guia completo que reúne recomendações técnicas, regulatórias e estratégicas para
instituições de saúde que desejam atuar com excelência neste campo. O documento ganha ainda mais relevância em um momento de avanço regulatório
no país, após a promulgação da Lei nº 14.874/2024, que estabelece o marco legal da pesquisa com seres humanos no Brasil.

Por que investir em pesquisa clínica

A pesquisa clínica é um dos principais motores de inovação em saúde. Além de contribuir para o desenvolvimento científico, ela amplia o acesso dos
pacientes a terapias de ponta, melhora a qualidade assistencial e fortalece a reputação das instituições envolvidas.

  • Para os pacientes: acesso a tratamentos inovadores e acompanhamento especializado.
  • Para os hospitais: fortalecimento institucional, atração de profissionais qualificados e visibilidade científica.
  • Para o país: integração ao cenário internacional de inovação e fortalecimento da soberania científica.

O marco regulatório da pesquisa clínica no Brasil

O avanço regulatório brasileiro tem sido constante desde a Resolução CNS nº 196/1996, que introduziu as primeiras diretrizes éticas para
estudos com seres humanos. Atualmente, a estrutura normativa é consolidada por três pilares principais:

  • Lei nº 14.874/2024 – institui o Sistema Nacional de Ética em Pesquisa e define as bases legais para condução de estudos clínicos.
  • RDC nº 945/2024 (Anvisa) – estabelece diretrizes e procedimentos para ensaios clínicos visando registro de medicamentos.
  • Resolução CNS nº 466/2012 – consolida princípios éticos e de proteção aos participantes de pesquisa.

Em complemento, o Brasil adota as Boas Práticas Clínicas (BPC) do guia ICH E6(R3), em vigor desde 2025, que alinha os
padrões nacionais aos critérios internacionais de qualidade, segurança e integridade dos dados.

Os seis pilares para criar um Centro de Pesquisa Clínica

De acordo com a cartilha da Anahp, a constituição de um CPC deve seguir seis etapas fundamentais, que garantem sustentabilidade, conformidade e
excelência científica.

1. Planejamento estratégico

O planejamento define o propósito, os objetivos e a visão de longo prazo do centro. Inclui um estudo de viabilidade para avaliar
aspectos técnicos, econômicos e de mercado, além de identificar riscos e oportunidades. Metas claras, como número de estudos, prazos de recrutamento
e padrões de qualidade, ajudam a orientar a gestão e o desempenho.

2. Infraestrutura e layout

Uma infraestrutura adequada é indispensável para a segurança e qualidade das pesquisas. O CPC deve contar com consultórios, salas de exame,
laboratórios, farmácia de pesquisa, áreas administrativas e espaços de apoio, todos em conformidade com as normas da
Anvisa (RDC nº 945/2024) e da CONEP. A acessibilidade, a biossegurança e o uso de tecnologia para gestão de dados
completam o conjunto de requisitos essenciais.

3. Recursos humanos

A equipe é o coração do centro de pesquisa. Ela deve ser composta por profissionais qualificados e continuamente capacitados:

  • Investigador principal: conduz o estudo e garante a integridade científica e ética.
  • Coordenador de pesquisa: supervisiona o andamento operacional dos estudos.
  • Equipe de enfermagem e farmacêuticos: asseguram o cuidado direto aos participantes e a rastreabilidade dos medicamentos.
  • Especialistas em regulação e qualidade: garantem a conformidade com normas nacionais e internacionais.
  • Equipe administrativa e de TI: gerenciam contratos, dados e infraestrutura digital.

4. Financiamento e sustentabilidade financeira

A manutenção financeira de um CPC depende de modelos de custeio claros e transparentes. A Anahp recomenda a criação de um
Guia de Taxas que inclua start-up regulatório, taxas de manutenção, emendas, monitorias e encerramento. Esses valores devem cobrir
todos os custos operacionais e garantir conformidade regulatória.

As principais fontes de financiamento incluem programas públicos como o PROADI-SUS e a FINEP, parcerias com a
indústria farmacêutica, instituições privadas e organizações internacionais. A transparência financeira e auditorias regulares fortalecem a
credibilidade do centro.

5. Regulação e ética

Ética e regulação caminham juntas na pesquisa clínica. Todos os projetos devem ser aprovados por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
e, quando aplicável, pela CONEP. Esses órgãos garantem o respeito aos direitos humanos, a confidencialidade dos dados e a segurança dos
participantes.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) também é central nesse contexto, exigindo consentimento informado, medidas de segurança
cibernética e rastreabilidade das informações pessoais. O descumprimento pode comprometer a validade dos dados e a reputação institucional.

6. Equipe multidisciplinar

O modelo ideal de CPC integra diversas áreas do conhecimento. Médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e
assistentes sociais colaboram para um atendimento holístico e seguro. Essa integração permite detectar precocemente riscos, personalizar o cuidado e
elevar o padrão ético-científico dos estudos.

Treinamento e capacitação contínua

A excelência de um CPC depende da atualização permanente de sua equipe. A Anahp recomenda programas regulares de capacitação em Boas Práticas
Clínicas, legislação nacional, biossegurança, LGPD e tecnologias de informação. Workshops, mentorias e cursos de e-learning garantem que todos os
profissionais mantenham a conformidade e a qualidade nas operações.

Boas práticas que fazem a diferença

  • Planeje com propósito: alinhe a ciência ao cuidado e aos resultados em saúde.
  • Escolha o local estrategicamente: priorize acessibilidade e integração com a rede de saúde.
  • Adote tecnologia desde o início: sistemas de gestão, rastreabilidade e segurança de dados.
  • Invista em pessoas: equipe treinada é o maior diferencial competitivo.
  • Estabeleça parcerias estratégicas: universidades, laboratórios e patrocinadores fortalecem o ecossistema.
  • Padronize processos (POPs): a padronização garante segurança e eficiência.
  • Monitore e melhore continuamente: indicadores de desempenho e auditorias internas sustentam a qualidade.
Estruturar um Centro de Pesquisa Clínica é um investimento no futuro da saúde. Mais do que cumprir requisitos regulatórios,
trata-se de construir um espaço onde ciência, ética e inovação caminham juntas. Seguir as boas práticas propostas pela Anahp significa criar
condições para que o Brasil avance na produção de evidências científicas e amplie o acesso da população a tratamentos seguros e eficazes.

A pesquisa clínica é, antes de tudo, um compromisso com a vida — e um convite à construção de um sistema de saúde mais ético, inovador e humano.

Referência: Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). “Como Estruturar um Centro de Pesquisa Clínica”. São Paulo, 2025.

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